Rastreabilidade: importância para a segurança do alimento e a abertura de novos mercados para a carne brasileira
Maria Nela González, uma das responsáveis pela implantação a rastreabilidade no Uruguai, defende a importância do tema para o Brasil
A médica-veterinária uruguaia Maria Nela González, que dirigiu o Sistema Nacional de Informação Pecuária no Ministério da Pecuária, Agricultura e Pescas (MGAP), plataforma tecnológica que possibilitou projetar, executar e promover o registro animal e a rastreabilidade individual bovina no Uruguai, esteve no Brasil para conversar com pecuaristas sobre os principais benefícios para a segurança do alimento e conquista do mercado mundial.
O Uruguai é o único país do mundo que possui rastreabilidade obrigatória em todo o seu rebanho bovino e, por conta disso, passou a ser modelo para outros países que querem adaptar o sistema para suas realidades. O processo de identificação e registro de 100% do seu gado ocorreu entre 2006 e 2011 e até hoje garante o acompanhamento desde o animal vivo até chegar ao prato, unindo rastreabilidade de campo com a indústria.
Para Maria Nela, a experiência no Uruguai indica que com a rastreabilidade, a segurança atinge quatro objetivos:
1) Sustentabilidade dos mercados alcançada graças à rastreabilidade;
2) Garantias ao consumidor de conhecer o percurso do animal e todo o processo de produção;
3) Segurança para o produtor em termos de roubo de gado e no envio ao abate, já que a rastreabilidade industrial dá garantias e torna o negócio transparente;
4) Valor acrescentado à cadeia comercial, permitindo alcançar um patamar altamente competitivo em nível internacional.
Sobre o mercado mundial, ela ressalta que consumidores com poder alto aquisitivo buscam informações associadas aos alimentos, ainda mais após a pandemia. “Existem mercados altamente exigentes e a rastreabilidade é a ferramenta ideal para proporcionar transparência e segurança”, detalha. Do ponto de vista epidemiológico, a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) incluiu a rastreabilidade em seus postulados como o instrumento adequado para controlar, mitigar e prevenir surtos de doenças infecciosas.
Para Maria Nela, todos os países possuem potencial para implementar a rastreabilidade na totalidade do seu rebanho e o Brasil não é exceção. Ela explica que, no entanto, a rastreabilidade tem que ser vista como um bem público, obrigatório, universal e inclusivo. “É preciso haver normas nacionais que apoiem e deem o contexto necessário para a implementação, que deve ser gradual, envolvendo todos os atores públicos e privados que atuam direta e indiretamente nos processos de produção e certificação de produtos. Esse desenho deve estar de acordo com a própria cultura do país, sua infraestrutura e a matriz produtiva existente”, completa.
Recentemente no Brasil para participar do evento Pecuariando – Encontro da Cadeia Agroindustrial, Comercial e de Serviços da Pecuária Paraense, realizado em Marabá (PA), Maria Nela destaca que existem muitos anseios por parte do setor público e privado para o início do trabalho. “O mercado brasileiro não é muito diferente do uruguaio. O setor industrial sempre se beneficiará com a implementação de processos rastreáveis e seria conveniente começar a desenhar uma cadeia para o comércio de carnes, como existe para outros itens como o arroz”, finaliza.
O Uruguai é o único país do mundo que possui rastreabilidade obrigatória em todo o seu rebanho bovino